terça-feira, 29 de maio de 2018

Noite

Eí garçom, me dê um copo de cerveja
Pois estou cansada de fazer tempestades apenas em copos d'água 
Se estou sóbria ou não, que seja 
Cansei de remoer a minha mágoa.

Já não enxergo mais o chão 
Mas vejo uma desconhecida no espelho do banheiro
Admito que isso me dá uma certa aflição 
Que me percorre um vazio no corpo inteiro.

Está tudo bem, e tão distante 
Devo ter apenas me perdido na volta pro bar
O que sinto agora não é tão importante
Me preocupo apenas em não me encontrar.

Aqueles olhares vindo de trás me querem
Estou farta de fingir reciprocidade 
Nem sempre darei-lhe o que quiserem
Minha boa vontade já passou da data da validade.

Garçom, me sirva mais um copo, por favor
Mas desta vez não haverá tempestades 
Nem lembranças de dor e rancor
A vida agora é uma caixa cheia de inutilidades.

Estou flutuando dentro da minha mente
Isso é tão bom quanto uma overdose 
Agora no espelho eu enxergo uma  inconsequente 
Que aprecia a sua bela psicose. 

Tenho quase certeza que é nesta rua vazia
Que meus pertences estão sob um teto
Caminho pra me esquentar, porque me sinto fria
Minha intuição diz que já está perto. 

A porta me lembra a saída 
Mas eu entro tentando esquecer 
Dentro da minha própria casa me sinto perdida
Será que agora posso enlouquecer?

A tempestade que estou fazendo agora
Acontece dentro da banheira
Na minha mente só me pergunto se já é hora
De eu me destruir por inteira. 

Mas sem forças eu acabo me desligando 
Deixando o caos dessa noite pra trás 
Sei que agora estou apenas sonhando 
Dormindo como se estivesse em paz.

O sol entra pelos meus olhos iluminando dentro do meu ser
A vida que há em mim restante
Está agradecendo por não morrer
E então lembro-me que viver ainda é interessante.


Nenhum comentário:

Postar um comentário